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terça-feira, 30 de abril de 2024

MG: fábrica produzirá 2 milhões de mosquitos da dengue com Wolbachia por semana. Veja!

Com o novo empreendimento, que será gerido pela Fiocruz, expectativa é que, nos próximos anos, Estado consiga exportar os insetos para toda a América

Após estudos indicarem, ainda em 2019, uma relação entre rompimentos de barragens de minério e um aumento nos casos de dengue e outras doenças, Minas Gerais deu um passo na tentativa de reparar mais este impacto decorrente do crime ambiental de Córrego do Feijão, em Brumadinho, com a entrega da Biofábrica Método Wolbachia. Em solenidade realizada nesta segunda-feira (29 de abril) na fábrica, localizada na região Oeste de Belo Horizonte, o governo do Estado anunciou que a previsão é de uma produção semanal de 2 milhões de "Wolbitos", como são chamados os mosquitos Aedes aegypti infectados com a bactéria Wolbachia, capaz de impedir que eles transmitam as arboviroses - dengue, zika e chikungunya. 

A medida é anunciada em meio à pior epidemia de dengue da história de Minas Gerais, com 324 mortes confirmadas e outras 769 em investigação, além de 556 mil casos já garantidos por testes da doença em 2024. Porém, a fábrica de mosquitos é anunciada com eficácia prevista para médio a longo prazo, não fazendo diferença no cenário atual da doença no Estado.


A Biofábrica foi construída com recursos da mineradora Vale, como "obrigação de fazer" do Acordo Judicial de Brumadinho, firmado entre a empresa, o governo de Minas e os diversos órgãos de Justiça do Estado. Com obra iniciada em fevereiro de 2023, o empreendimento tem 1.125 mil m² de área construída em um terreno de 4 mil m² no bairro Gameleira. 

A obra do prédio teve um investimento de R$ 20 milhões, enquanto a operação da fábrica contará com outros R$ 57 milhões que serão destinados à operação da estrutura por 5 anos, tudo custeado pela mineradora responsável pelo rompimento. Após o final deste prazo, a estrutura e administração serão entregues à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que, hoje, já conta com outras duas fábricas semelhantes no país: no Rio de Janeiro e no Paraná.

Com previsão de início de funcionamento somente em janeiro de 2025, segundo o governo de Minas os primeiros insetos produzidos no local serão soltos em Brumadinho e nos outros 21 municípios da Bacia do Rio Paraopeba, que foram diretamente atingidos pelo rompimento da barragem da Vale, no dia 24 de janeiro de 2019. 

"Inicialmente serão para os 22 municípios da bacia do Paraopeba, mas já estamos em tratativas para expandir para todo o Estado, para todo o país e, talvez, para toda a América", explicou o secretário Estadual de Saúde, Fábio Baccheretti. Ele explicou ainda a diferença entre esta unidade e a fábrica já existente e tocada pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Segundo ele, a unidade municipal faz apenas uma parte do processo, partindo da eclosão dos ovos que eram produzidos pela Fiocruz e trazidos para a capital mineira.

"Essa nova biofábrica é completa, capaz de produzir todo o ciclo do mosquito. Lembrando que os ovos que serão produzidos aqui podem ser exportados para outros países, então, é um grande ganho, pois Minas terá independência e poderá fazer todas as fases", garantiu o secretário.


Durante o evento, o governador Romeu Zema (Novo) destacou a importância dessa entrega para a reparação da tragédia de Brumadinho, mas, ao mesmo tempo, beneficiando todos os mineiros. "Esse trabalho está propiciando que aquilo que foi tão triste, que custou 272 vidas, se transforme numa melhoria para os 20 milhões de mineiros. A fábrica com certeza vai chegar a uma capacidade de 60 milhões de mosquitos por mês e, com o tempo, eu tenho certeza que nós vamos ter aqui em Minas números muito melhores com relação à dengue", ponderou o governador.

A entrega da fábrica também foi celebrada por membros da Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão (Avabrum). "Não existe reparação para quem perdeu os seus. Vida não se repara! Mas essas ações que salvam outras vidas, de certa forma trazem alento aos nossos corações. Esse espaço aqui, e tantos outros que estão sendo inaugurados fruto deste acordo, é pago com dinheiro de sangue, lágrima e dor. Então, que seja usado com muita responsabilidade e que outras vidas sejam salvas", concluiu Andreza Rodrigues, presidente da entidade.

Próximos passos

Marco Aurélio Krieger, vice-presidente de produção e inovação e Saúde da Fiocruz, explica que, após a entrega da estrutura pela Vale, a entidade agora passará para a fase de licenciamento, seleção dos profissionais que atuarão na biofábrica, entre outras coisas burocráticas. A expectativa é que, dentro de seis meses, a planta já esteja produzindo e iniciando a liberação dos mosquitos.

"Nos primeiros 10 anos do projeto (da biofábrica no Brasil), protegemos 3 milhões de brasileiros de serem infectados por estas doenças por meio destes mosquitos. Em 2024, com a melhoria da tecnologia de produção na fábrica do Rio de Janeiro, acreditamos que iremos chegar a 4 milhões de pessoas protegidas em um ano. E, agora, com a biofábrica de Minas, nossa estimativa é que a gente consiga, nos próximos 10 anos, proteger 70 milhões de pessoas nos municípios brasileiros que são responsáveis por 80% dos casos de dengue nos últimos 20 anos", detalhou, com otimismo, Krieger.

Como funcionam os "Wolbitos"?

O Programa Mundial de Wolbachia (WMP) é uma iniciativa internacional, sem fins lucrativos, que lidera essa iniciativa global de saúde que visa proteger as comunidades contra doenças transmitidas por mosquitos.

O procedimento consiste na liberação controlada de mosquitos Aedes aegypti infectados com Wolbachia, que se acasalam com os mosquitos locais, gradualmente estabelecendo uma nova população com essa bactéria. Conhecidos como "Wolbitos", esses mosquitos não são transgênicos e não representam risco de transmissão de doenças.

A Wolbachia é um microrganismo naturalmente presente em cerca de 50% dos insetos na natureza, porém ausente no Aedes aegypti. Quando presente nos mosquitos, ela interfere no desenvolvimento dos vírus da dengue, zika, chikungunya e febre amarela urbana, contribuindo para a redução dessas enfermidades.

Após a liberação dos mosquitos infectados no ambiente, eles se acasalam com a população local, promovendo uma nova geração de mosquitos com Wolbachia. Com o tempo, a proporção de mosquitos portadores dessa bactéria aumenta progressivamente, reduzindo a necessidade de novas liberações e proporcionando uma diminuição sustentável das doenças transmitidas por esses insetos.


Fonte: otempo.com.br

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